Ano passado fiz um curso muito bacana na Fundação Cultural de Curitiba (aliás, quem tiver interesse, entre no site e procure pelos cursos: http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/). Participei da Oficina de Análise e Criação Literária, a especialidade foi "Crônicas", meu gênero predileto.
Ao término das oficinas, os participantes interessados apresentaram textos de sua própria produção e estes passaram por uma comissão externa especialmente constituída para o projeto. Meu texto foi um dos selecionados. Esta semana teve um coquetel onde as revistas seriam entregues. Fui lá pegar a publicação, ficou linda!!
Com muito orgulho, apresento meu texto para vocês.
Perguntas, dúvidas, estou à disposição para responder.
DA SOLIDÃO
Sujeito tinha o
trabalho que pedira a Deus, acordava às 11h, almoçava, perambulava de chinelos
e roupão pela casa.
Sujeito tinha o
trabalho que pedira a Deus, ganhava razoavelmente, acordava às 11h com a cara
amassada, almoçava um miojo e salsicha gelada, perambulava feito um zumbi pela
casa de chinelos velhos e roupão que nunca viu uma máquina de lavar.
Sujeito tinha o
trabalho que pedira a Deus, ganhava razoavelmente mal, não tinha casa própria,
morava de aluguel, acordava às 11h, com a cara amassada e a boca amarga de
cachaça, mal almoçava um miojo e salsicha gelada, quando lembrava de comprar,
perambulava solitário feito um zumbi pelos dois recintos da casa, de chinelos
velhos e roupão que nunca viu uma máquina de lavar roupa, com um cigarro aceso
no canto da boca.
Sujeito tinha o
trabalho que pedira a Deus, pois podia passar a noite na esbórnia enchendo a
cara com a mardita, ganhava razoavelmente mal, dava pro bolinho de carne,
tira-gosto especial das quartas e sextas, não tinha casa própria, morava de
aluguel lá no Caixa Prego, pegava duas conduções para chegar ao serviço,
acordava às 11h, com a cara amassada e a boca amarga de cachaça, se olhava nos
espelhos e via que o tempo passava e que seus dentes estavam cada dia mais
podres e sua aparência atrairia apenas a Solidão, mal almoçava um miojo e
salsicha gelada, quando lembrava de comprar, perambulava solitário feito um
zumbi pelos dois recintos da casa, de chinelos velhos e roupão que nunca viu a
roupa de lavar, com um cigarro aceso, uma tosse que nunca mais ia deixá-lo em
paz.
Sorte
que sujeito ainda tinha trabalho, acordava, almoçava, perambulava.