Há alguns meses decidimos nos inscrever em uma
ultramaratona, a JFK 50 milhas (80 km).
Montamos nossa planilha, e começamos a seguir o treino.
O treino começa num ritmo crescente, tem seu auge, depois
segue num ritmo descrescente. A semana anterior à corrida, por exemplo, é
praticamente descanso. Sábado era o dia dos longões e, no auge, alguns deles
pediam distâncias de até uma maratona. Para isso, nos inscrevemos em duas maratonas,
pois treinando em uma corrida teríamos o apoio que precisávamos: água, isotônico, gel nos pontos
certos e outros corredores para dar aquela animada.
Começo de setembro foi a maratona de State College,
percurso ótimo, me senti segura. Choveu metade da prova e voltei com um
resfriado que me deixou de molho uma semana. Voltei ao treino, com aquela ânsia
de recuperar o tempo perdido. Acabei tendo uma distensão muscular na coxa. Mais
cuidados.
Recuperada, tive que recomeçar, desisti de fazer a
segunda Maratona, achei mais seguro trocar pela Meia. Ok, depois disso, senti que podia
voltar aos treinos. Nesse entremeio, fiz um curso de automassagens, para
aprender a lidar com o corpo.
Um detalhe muito importante da JFK, os 25 primeiros
quilômetros são de trilha. Tentei me familiarizar com o Appalachian Trail
fazendo hike, trotando por lá. Também fizemos uma corrida XTerra em Charlottesville (foi antes até da
primeira maratona), correu tudo bem, mas confesso que a trilha era o trecho que
mais me preocupava. Enfim, eu sabia que não ia ser fácil.
Ontem foi o grande dia, o inverno chegou mais cedo este
ano, estávamos na casa dos -8oC.
Frio do caramba!! Havia duas opções de horário de largada às 5h ou às
7h. O horário das 5h dava 2 horas de vantagem na trilha, mas é completamente às
escuras. Começamos às 7h.
No início, alguns quilômetros no asfalto e entramos
na trilha. Gente, pensa numa coisa sofrida! Sério! Subida e mais subida, caminho de pedras
escondidas pelas folhas secas. Eu pisava com o pé inteiro, numa posição meio
agachada (meio pata. hehe!) pra ficar mais próximo ao chão, tentando evitar
quedas. Passo curto, muita atenção no chão. Senti que estava botando todo meu
peso nos joelhos. Tornozelinho véio, ai! Um senhor caiu na minha frente e uma
moça quase caiu e quase levou Flavio junto, se apoiou nele. Quando saímos da
trilha, ouvi: "Parabéns, vocês cumpriram a pior parte, agora vai começar o
endurance". Quando pisei na parte plana (C&O Canal), senti o trabalho que
eu tinha dado aos joelhos. Tentei soltar o corpo, mas era impossível.
Chegamos até a Station Aid do km55, naquele ponto éramos os últimos
que ainda tinham chance de tentar recuperar (em cada ponto, eles vão recolhendo os corredores
que estão fora do tempo).
Flavio perguntou: "Você quer continuar?". Eram
mais 25km, no meu estado, não tinha como recuperar, meu ritmo ia só decair. Decidi parar e ele
parou comigo. Flavio me incentivou o tempo inteiro, fez a trilha lindamente (dava
aqueles passos certeiros, curtinhos e ligeiros, vencendo o tortuoso caminho das pedras, parecia
um bode saltitante das montanhas. HAUAHUAHAUHA!), podia ter fechado os 80k
sim, mas ficou do meu lado. Ficamos sem medalha, mais ainda assim somos ultramaratonistas de 55km. (oi? Eram 50 milhas? Ah, "singanei", achava que eram 50 quilômetros! Menina, ainda não me habituei a esse padrão de medidas. hohoho!)
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Imagem: arquivo pessoal. |
Enquanto eu corria algumas boas horas desse sábado, a vida
passava, as lojas abriam, alguém ia tomar seu café da manhã, alguém ia
almoçar, levar as crianças no shopping... enfim, o mundo não para quando você
está realizando um projeto seu. Mas algumas pessoas pararam para se fazer
presente em momentos cruciais, é impossível esquecê-las. Recebi apoio e carinho
de quem passei a amar e admirar para todo o sempre.
Brindemos! Muita saúde para muitas outras aventuras!
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Gentilezas que bateram em nossa porta.
Imagem: arquivo pessoal. |
E é isso ae, pessoal! A temporada para novos projetos
está aberta.
A
few months ago we decided subscribe in an
ultramarathon, the JFK 50 miles (80 km).
We set
our training plan,
and started our journey. The
training starts in a growing, has their peak, then follows a descending.
The
week before the race, for example, is almost exclusively rest.
Saturday was the day for
the long runs sometimes with distances up to a marathon. For this, we signed up
in two marathons. Because there we would have the support we needed: water,
isotonic, gel at the right points, and other runners.
Early September was the
marathon of State College, great route, I felt safe. But it was raining during
half of the race and I came back with a cold what make me stopped my training for
one week. I went back to training, with that eagerness to
catch up. I ended up having a muscle strain in the thigh.
I
needed take care.
Recovered, I had to
start again. I gave up of the second marathon, I thought that is safer exchange
for a Half Marathon. Ok, I felt I could go back to training.
A very important detail of JFK, the first 25 kilometers are trail. I tried to get familiar with the Appalachian Trail doing hikes, jogging around. We
made a XTerra race (it
was before the first marathon), I did well, but I confess that the trail was
the part that worried me. Anyway, I knew it would
not be easy.
Yesterday was the big
day, the cold came early this year, it was -8 C.
Cold
dammit!! But we were prepared for it. There were two
starting time options, 5am or 7am. The time of 5am gave two
extra hours the track, but it is completely dark. We started at 7am.
In
the beginning, we had some kilometers on pave and then we entered on the trail.
Guys,
think about something painful! Seriously, climbs and
more uphill paths with stones hidden by the dry leaves. I
stepped with my whole foot, in a crouched position (like a duck walking. Hehe!),
to stay closer to the ground, trying to avoid falls. Step short, much attention
on the floor. I felt I was putting all
my weight on the knees. A man fell in front of me and a girl almost fell
and almost led Flavio together, leaned into him. When we left the track, I
heard: "Congratulations, you completed the worst part, now begin the
endurance!" When I stepped in
C&O Canal, I felt the work that I gave to my knees.
I
tried to relax the body, but it was impossible.
We arrived at Aid
Station of km55, we are the last ones who still had chance to try to recover
(they will collect the other runners who are out of the time).
Flavio asked me:
"Do you want to continue?". We needed run
more 25km. I
think: "No chance to recover it, I'm not ok, the pace would be worst".
I decided to stop and he stopped with me. Flavio encouraged me all the
time, he did the trail
beautifully (with short steps, winning the tortuous path of stones,
he looks like a mountain
goat.
HAUAHUAHAUHA!). He could stay in the race, but he decided stop with me. Of the 1,500 runners who
started the race, 789 finished within 12 hours allowed. I didn't win medal, but
I felt an ultramarathonist after running 55km.
While I was running for a
few hours on Saturday, the life continuous, the shops opened, someone was going
to take your breakfast, someone was going to have lunch, take the kids at the
mall... the world does not stop when you're doing your challenges.
But
some people stopped to thinking of me, to wish me "Luck". It is
impossible to forget. I received (and I am still receiving) a lot of support
and care of who I will love and admire forever.
And that's all, folks!
The season is open for new challenges!!!