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domingo, 26 de novembro de 2017

Pequenos Textos Nov. 2017

   No nosso voo de volta para casa, João só de botuca nas conversas alheias. No banco da frente, alguns funcionários da companhia aérea. Assim que o avião pousou, todo mundo naquele desespero de descer, João levantou em cima do banco, agarrou-se na poltrona da frente e soltou um sonoro: "Oi?!" Numa simpatia, que nem eu, em outras épocas, resistiria! HAUHAUAHAUAHA!
 
   Assim que chegamos em D.C., ali pelas 6h30 da manhã, João já tinha acordado. Assim como a mami, ele é uma pessoa matutina, e, depois de uma boa dormida, costumamos acordar num pulo só. Numa felicidade de quem sabia que estava em algum lugar seguro, mas sem noção de onde estávamos, gritou: "Eba, praia!!". Escutei algumas risadinhas. Depois disso ainda ouvi alguns: "Tchau, João!". Meu menino fazendo amizades por aí.
 
   João brincando com a amiguinha, que não queria dividir o brinquedo. Estavam se estranhando por um cachorrinho peludo. Ela, um pouco maior que ele, conseguiu segurar o cachorro. Mas, mesmo assim, continuou chorando. A mãe dela veio acudir. Eu fiquei só observando. João não se fez de rogado, ergueu os braços e a mãe da menina pegou João no colo. A menina se irritou de vez. Queria o colo da mãe. João desceu, e enquanto a menina ainda soluçava no colo da mãe, João saiu contente com seu cachorrinho. Não me aguentei. Ri muito!
 
   Gosto de levar o João em restaurantes para ele aprender a se comportar desde cedo. E, sinceramente, se cair uma comidinha no chão, não vou ter ataques porque meu chão vai ficar um sebo só. Outro dia fomos numa lanchonete em Georgetown que gostamos bastante. O espaço é meio justinho, mas conseguimos um cantinho para gente. João, do alto de sua high chair, se atracou com as batatas. Não adianta avisar que tá quente, tem que soprar muito, e depressa. A música ambiente era anos 80, João comia uma batatinha, e dançava com a cabeça, se achando cool. Descobrindo os pequenos prazeres da vida.
 
   Outro dia fui buscá-lo na escolinha, eu e um pai esperávamos na porta. A tia abriu a porta, e o amiguinho de João veio direto pros braços do pai: "Dad!!". João veio logo atrás, me ignorou, abriu os braços pro pai do amiguinho e gritou também: "Dad!!". HAUAHUAHAUAHA! (só para eu lembrar mais pra frente, pai do Tate).
 
 
 
 

terça-feira, 7 de novembro de 2017

TCS New York City Marathon (NYC - part 15)

Oi gente,
   Voltei pra contar da minha primeira maratona depois do João. Fiz a famosa maratona de Nova Iorque. Estou aqui nos States faz 5 anos, em todos os anos nos inscrevemos, e só neste ano eu fui sorteada para poder participar. Já vou adiantando, foi bem difícil. Segui minha planilha de treino, mas não fiz tiros, só rodei os quilômetros. Não fiz musculação para fortalecer o corpo, pouco alonguei. Ou seja, completei a maratona, mas sofri bastante. Afffff! Bom, vamos a ela.
   Acordei às 4h15 para pegar o ônibus e seguir para a largada às 5h30 (na parte mais sul de NYC, no bairro de Staten Island). Como são mais de 50 mil pessoas, vamos saindo por blocos, meu bloco só saía às 10h15. O engraçado é que todo bloco ouve o hino e escuta Frank Sinatra cantando New York. Já começa numa ponte, e a gente fica sem noção de que ritmo saiu, o GPS fica meio doidão feito a gente. Meus primeiros 10k foram ok, sentia um pouco de calor e me arrependia de ter ficado de colete e manga comprida, olhava ao redor e todo mundo já tava de manga curta. Tirei a luva e o gorro (brinde do Dunkin' Donuts que eu não queria perder) e enfiei nos bolsos; já pro final, sentia frio em meio a garoa e o dia que tinha se tornado cinza, fiquei feliz por ter guardado o gorro.
   Muitos postos de água e gatorade, me abasteci em quase todos; já pro final, não podia nem pensar em engolir aquele líquido, me dava um embrulho. E já comecei a achar que só tinha gatorade e água, senti falta de sal e duma coca-cola. Mais pro final, vi bastante postos com banana, mas também não desceu, fora que quase escorrei nas cascas. HAUHAUAHUAHAUA! Alguns postos ofereciam sal, em um peguei um pretzel sequinho, consegui mastigar, mas demorei a engolir.
   Gente, é muito louco o limite que cada um pode chegar! Acho que quebrei depois do quilômetro 21, mas eu não tinha escolha, desistir não era algo que eu tinha em mente. Segui. E segui mais consciente nas coisas ao meu redor, olhando insistentemente pro relógio, pensando no meu tempo, no quanto faltava eu percorrer. Odiei cada subida de ponte e ficava pensando "qual o cume dessa ponte?" hehe! No Brooklyn vi muitos judeus de chapeuzinho e seus graciosos filhos "escadinha" vestidos iguais; no Queens me emocionei com as cantoras na frente da igreja; no Bronx me animei com a galera dançando e gritando: "Go Party! Go Party!". Cada figura! Cada mão estendida para um High five! Quando cheguei no Central Park não sabia se me sentia leve ou pesada com aqueles quilômetros finais. A Chegada estava lá, em algum lugar ela estava lá me esperando de braços abertos.
   Odiei algumas câmeras que me flagraram andando, também por causa delas eu voltava a correr, no final refiz amizade com elas, consegui levantar as mãos e abrir um sorriso.
   Meu ponto de referência é o Columbus Circle, é por lá que sempre inicio minhas corridas quando vou ao Central Park, e a chegada estava há uns 2km de lá. Passei visualizando o Columbus e segui aquele trecho interminável, cruzando enfim a linha de chegada. Fiquei feliz e frustrada, podia ter feito melhor. Sentia falta do Flavio (falei para ele não ir praquela muvuca com o João e a mãe de jeito nenhum. Tadinho! Sempre preocupado e sempre me incentivando), senti falta de ver uma cara conhecida, enfim, de ter alguém para extravazar a emoção ali na hora.
   Depois da linha de chegada, todo mundo seguiu mais uns 2km dentro do parque até pegar o poncho para se aquecer do frio. Para sair, tive que voltar esses quilômetros até chegar meu ponto de referência (o Columbus). Em todas as ruas muitos policiais (me perguntaram se eu não tinha medo de ataque terrorista. É claro que sim. Tanto é que corri perto do canteiro central, se viesse um louco, eu podia visualizar melhor... Ah tá), muitos cavaletes bloqueando tudo, a gente só seguia o fluxo. Táxi por ali, nem pensar. Fui caminhando até o hotel, mais meia hora de caminhada. Cruzei metade da 5a Avenida, vestida no meu poncho azul, recebi muitos Parabéns. Nessa altura da vida, já tinha esquecido o cansaço, estava aliviada e orgulhosa de mais um dever cumprido.
 

Imagens: arquivo pessoal.
 
 
 
 Veja também:
- NYC (part 14) - http://joujoumel.blogspot.com/2017/07/